sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Medo do novo


Arthur recebendo seu primeiro aparelho auditivo. (Recorte de jornal, Arquivo da família)

Localizado na cidade de Bauru, no interior de São Paulo. O Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (mais conhecido como Centrinho da USP) é referência no apoio aos deficientes auditivos.
Lembra do Arthur? Ele frequenta o Centrinho desde os dois anos de idade, já saiu até no jornal "Dia-a-dia". Foi lá que ele conseguiu seu primeiro aparelho auditivo. e também os outros que ele recebeu a medida que ia crescendo. E todos eles foram adquiridos de graça. Tudo bem, hoje ele não usa muito. A mãe dele, a Miriam, acredita que pode ser por vergonha dos amigos. Não deixa de fazer sentido. Vale lembrar que ele tem seu próprio meio, entre outros iguais a ele. E esse pode ser o motivo pelo qual ele não manifesta interesse na cirurgia de transplante coclear. Sabe o que é?

Conflito de interesses

Também conhecido como ouvido biônico, o implante coclear é um dispositivo eletrônico que estimula fibras nervosas, permitindo a decodificação do som através de um microfone. No caso do Arthur, que a deficiência auditiva profunda é ligada ao mal funcionamento do nervo auditivo, seria uma medida eficiente. O implante coclear "pula" esse nervo transmitindo os sons direto para a próxima fase, que no caso dele, funciona só que não é estimulada.
Particularmente, Arthur é muito vaidoso. Ele prefere não usar o aparelho que tem (que já não é tão eficiente em relação ao grau de sua surdez) por que considerar feio esteticamente. O transplante coclear consiste em dois componentes um interno e outro externo. O interno, composto por uma antena interna com um imã, um receptor estimulador e um cabo com filamento de múltiplos eletrodos (que realizam a propagação do som) envolvido por um tubo de silicone fino e flexível, não fica exposto e é imperceptível. Já a parte externa composta por um microfone direcional, um processador de fala, uma antena transmissora e dois cabos, fica exposta. E muitos surdos, já acostumados com o fato de não ouvirem, preferem não realizar o procedimento por que acham feio. Quem perdeu a audição e mesmo para quem a tem, não vê problema nenhum em ter um microfone perto do ouvido. Pode parecer um pouco difícil para nós, ouvintes entender por que eles não querem ouvir. E foi isso que a Miriam ouviu da fonoaudióloga na visita ao Centrinho a pouco tempo.
"Ela me disse que temos que pensar muito se essa vontade não é a dos pais. Que nós temos que pensar no que o Arthur quer". Infelizmente, Arthur não teria direito ao implante grátis pelo SUS. Lá, apenas crianças menores de três anos tem esse direito. Arthur, mesmo frequentando o Centrinho desde os três, hoje tem dezoito anos. Claro, existe a possibilidade de se fazer o implante em uma clínica particular. Mas o preço gira em torno de R$ 40 mil. O pai de Arthur, o comerciante Welber (Elbinho) deixa claro que isso não é problema: "O que eu puder fazer pelo meu filho eu faço, trabalho sem parar, vendo carro e o que for". Mas aí entra a história das "vontades dos pais". Arthur não tem definido ainda se quer ou não se submeter à cirurgia, até por que segundo a mãe ele tem um certo medo desse tipo de procedimento, mas a razão principal para isso pode ser que ele não se sinta preparado para isso. Se você parar pra pensar, ele vai ter que começar quase do zero, e vai perder contato com seus amigos, já que todos são surdos e pode ser que não tenham a mesma condição de Arthur para fazer o implante. Pode parecer bobo, mas é como mudar de país: Tudo o que você conhece está em um lugar, Brasil por exemplpo, aí você é forçado a sair e ir para uma realidade diferente, como a Finlândia, você vai ter que começar do zero, e mesmo se você optar por voltar, nunca mais você será o mesmo.
Arthur demorou muito tempo para conseguir grandes amigos fora do eixo da família (irmão e primos), levou tempo para ele encontrar pessoas como ele, com quem ele consegue realmente se comunicar sem problemas. Por isso esse valor que ele dá a própria realidade.

Um comentário:

  1. Matheus,
    boa matéria, mais uma vez!
    Apesar dos poucos recursos audiovisuais, você tem conseguido aprofundar o tema.
    Parabéns!

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