sábado, 23 de outubro de 2010

Diversão, é solução sim...

Não sei se alguem aqui viu Profissão Repórter do dia 4 de Outubro de 2010. Mas o tema foi bastante interssante, levando em conta o tema aqui tratado. Um dos temas do programa foi uma festa de surdos, em uma boate em São Paulo.
Pode parecer ridículo, mas você já deve ter ouvido alguém dizer "Olha aquele cara é cego, tadinho dele". Pra começar ninguém é digno de pena. E depois, pessoas com necessidades especiais podem sim se divertir.

Não precisa ouvir...


Mortal Kombat Armageddon

Vamos recorrer ao nosso velho e conhecido Arthur. Até agora ele apareceu apenas criança. Esse é o Arthur hoje, com seus 18 anos, fazendo uma das coisas que ele mais gosta, jogos eletrônicos. A Miriam, mãe, até se preocupa com o tempo que ele gasta jogando. O que tiver a mão ele joga, de Pokemon, passando por Age of Empires até chegar ao Mortal Kombat (foto). Tudo bem, não é necessário ouvir para jogar bem esse tipo de coisa. Usa-se mais a visão, quase que 100%. Mas exercícios físicos também requerem audição. Arthur também gosta de futebol. Torcedor do Botafogo (foto), sei lá por que, ele joga futebol amador como goleiro, dizem seus amigos que ele joga bem.

Arthur optou por torcer pelo time carioca
Quem já acompanhou as paraolimpíadas, vai se lembrar que existe uma modalidade de futebol para cegos. O esquema é o mesmo, as diferenças são que todos os joadores da linha tem que usar vendas nos olhos, já que nem todos podem ter a mesmo grau de perda visual, apenas o goleiro enxerga, o que tendo em vista a habilidade dos jogadores, não faz muita diferença. A bola tem guizos dentro para produzir sons, e duas pessoas batem palmas atrás dos gols para que todos saibam se localizar. Mas enfim, do gol um surdo pode ver o que acontece ao seu redor, sem precisar ficar de costas para ninguém. Esse pode ser um motivo para o Arthur preferir defender as redes de seu time ao invés de tentar ficar na ponta para marcar gols.


Arthur na Praia de Trindade (RJ)







Arthur em especial, é muito vaidoso. Coisa incomum não? quando ele viajou com a família para a cidade de Trindade no Rio de Janeiro, ele se preocupou muito com a forma física, muito mesmo. Para entender isso, deve aceitar o fato de que um surdo é muito dependente do sentido da visão. Se ele não gosta do que vê dificilmente vai se quer querer conhecer. Arthur nunca foi bom para se alimentar, não comia nenhuma verdura, e ainda nao come nenhuma fruta, não é exagero.
A pouco tempo resolveu comer folhas como o alface. Não, ele não gosta, ele come por que descobriu que isso ajuda a manter a forma. Eu disse que ele é vaidoso.



E por fim, voltando ao assunto, que eu comecei lá em cima. Quandos se vai a uma festa, seja ela de casamento, formatura, aniversário ou qualquer outro motivo, o que é necessário para faze-la ficar boa? Se você respondeu álcool, procure o AA. Estou falando de música. Até aqui eu provei que tudo o que você faz, um deficiente, mesmo que de uma maneira pecuiar, também pode fazer. Aqui temos um problema, o surdo não ouve a música, sendo assim ele vai achar a festa chata? Não. Por que ele sente a música. Pode parecer aquele tipo de conversa de índio, mas não. Pare e tente se lembrar da última festa que você foi. Seu corpo deve ter "vibrado" com a músuca. É assim que um surdo faz. Ele sabe o que fazer por que além de sentir a música, ele acompanha os passos dos outros ao redor dele (isso não é uma característica única, muio ouvinte faz isso também). Se você assistiu o vídeo do Profissão Repórter, no link lá em cima, você provavelmente viu que até concurso de dança os surdos são capazes de fazer. E dançam melhor que muita gente. As próximas fotos do Arthur foram tiradas em uma festa de casamento recente. Vai dizer que ele não aproveitou?
Ninguém é igual a ninguém, todos somos capazes de fazer as mesmas coisas só que de maneiras diferentes. Pense duas vezes antes de sentir pena de alguém.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Medo do novo


Arthur recebendo seu primeiro aparelho auditivo. (Recorte de jornal, Arquivo da família)

Localizado na cidade de Bauru, no interior de São Paulo. O Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (mais conhecido como Centrinho da USP) é referência no apoio aos deficientes auditivos.
Lembra do Arthur? Ele frequenta o Centrinho desde os dois anos de idade, já saiu até no jornal "Dia-a-dia". Foi lá que ele conseguiu seu primeiro aparelho auditivo. e também os outros que ele recebeu a medida que ia crescendo. E todos eles foram adquiridos de graça. Tudo bem, hoje ele não usa muito. A mãe dele, a Miriam, acredita que pode ser por vergonha dos amigos. Não deixa de fazer sentido. Vale lembrar que ele tem seu próprio meio, entre outros iguais a ele. E esse pode ser o motivo pelo qual ele não manifesta interesse na cirurgia de transplante coclear. Sabe o que é?

Conflito de interesses

Também conhecido como ouvido biônico, o implante coclear é um dispositivo eletrônico que estimula fibras nervosas, permitindo a decodificação do som através de um microfone. No caso do Arthur, que a deficiência auditiva profunda é ligada ao mal funcionamento do nervo auditivo, seria uma medida eficiente. O implante coclear "pula" esse nervo transmitindo os sons direto para a próxima fase, que no caso dele, funciona só que não é estimulada.
Particularmente, Arthur é muito vaidoso. Ele prefere não usar o aparelho que tem (que já não é tão eficiente em relação ao grau de sua surdez) por que considerar feio esteticamente. O transplante coclear consiste em dois componentes um interno e outro externo. O interno, composto por uma antena interna com um imã, um receptor estimulador e um cabo com filamento de múltiplos eletrodos (que realizam a propagação do som) envolvido por um tubo de silicone fino e flexível, não fica exposto e é imperceptível. Já a parte externa composta por um microfone direcional, um processador de fala, uma antena transmissora e dois cabos, fica exposta. E muitos surdos, já acostumados com o fato de não ouvirem, preferem não realizar o procedimento por que acham feio. Quem perdeu a audição e mesmo para quem a tem, não vê problema nenhum em ter um microfone perto do ouvido. Pode parecer um pouco difícil para nós, ouvintes entender por que eles não querem ouvir. E foi isso que a Miriam ouviu da fonoaudióloga na visita ao Centrinho a pouco tempo.
"Ela me disse que temos que pensar muito se essa vontade não é a dos pais. Que nós temos que pensar no que o Arthur quer". Infelizmente, Arthur não teria direito ao implante grátis pelo SUS. Lá, apenas crianças menores de três anos tem esse direito. Arthur, mesmo frequentando o Centrinho desde os três, hoje tem dezoito anos. Claro, existe a possibilidade de se fazer o implante em uma clínica particular. Mas o preço gira em torno de R$ 40 mil. O pai de Arthur, o comerciante Welber (Elbinho) deixa claro que isso não é problema: "O que eu puder fazer pelo meu filho eu faço, trabalho sem parar, vendo carro e o que for". Mas aí entra a história das "vontades dos pais". Arthur não tem definido ainda se quer ou não se submeter à cirurgia, até por que segundo a mãe ele tem um certo medo desse tipo de procedimento, mas a razão principal para isso pode ser que ele não se sinta preparado para isso. Se você parar pra pensar, ele vai ter que começar quase do zero, e vai perder contato com seus amigos, já que todos são surdos e pode ser que não tenham a mesma condição de Arthur para fazer o implante. Pode parecer bobo, mas é como mudar de país: Tudo o que você conhece está em um lugar, Brasil por exemplpo, aí você é forçado a sair e ir para uma realidade diferente, como a Finlândia, você vai ter que começar do zero, e mesmo se você optar por voltar, nunca mais você será o mesmo.
Arthur demorou muito tempo para conseguir grandes amigos fora do eixo da família (irmão e primos), levou tempo para ele encontrar pessoas como ele, com quem ele consegue realmente se comunicar sem problemas. Por isso esse valor que ele dá a própria realidade.