Se para quem já nasceu com algum tipo de deficiência auditiva é difícil lhe dar com “nosso” mundo, pior ainda é alguém, que pertencia à realidade dos ouvintes, ter que se acostumar ao mundo sem som. E acredite isso vai se tornar muito comum em alguns anos. E nem serão necessários muitos. Fonoaudiólogos, médicos e mães alertam: Som alto pode deixar surdo. E não é exagero.
Você provavelmente já observou que os seres humanos têm a tendência de perder a capacidade auditiva ao decorrer da vida. Já ouviu falar em um repelente sonoro contra jovens? É real! Ele emite um som em uma determinada frequência que só os mais novos podem ouvir. Esse som causa um desconforto. Os apitos para adestramento de cães seguem o mesmo modelo, os nossos amigos caninos ouvem, mas nós não. Isso acontece por que os cães têm uma audição mais sensível que a nossa, isso os torna capazes de ouvir frequências sonoras inaudíveis para nos seres humanos. A desvantagem para os cães é que o limite da dor para eles é mais baixa que a nossa, já reparou como os cães ficam assustados com o som de foguetes? É por isso. De acordo com pesquisas, os seres humanos têm um limite que, em média, é de 120 decibéis, (o som de um avião a jato beira 130 decibéis) ouvir um som a partir dessa faixa causa dor.
Pense que você está prestes a entrar em uma boate. Não há desconforto nenhum acusticamente falando. No momento em que você entra, sente uma pressão no interior do ouvido, muito semelhante ao que sentimos quando estamos mudando de altitude (como subir ou descer em uma serra a caminho da praia). Além de se sentir um desconforto por causa do som alto. Isso ocorre por que dentro do ouvido existem músculos especiais que se contraem ou relaxam para proteger o interior do ouvido. No caso da boate, quando o som aumentou repentinamente, esses músculos se fecham de uma vez para tentar evitar algum dano. É válido ressaltar que essa contração muscular não é uma defesa 100% eficiente. Depois de algum tempo, seu organismo se acostuma com o barulho, e os músculos acabam sofrendo um leve relaxamento. E é essa quantidade de som em excesso que prejudica a audição. Não, não vou fazer apologia à aniquilação de boates. Até por que, a fonoaudióloga Marizelda Medeiros explica que ir a uma balada uma vez ou outra não vai te deixar surdo de repente. O grande perigo hoje cabe até no bolso: o fone de ouvido.
Haaaaam? O que você disse?
A ideia do fone é até boa. Você o usa, encaixando-o na orelha, e pode se deslocar ouvindo o que quiser, onde quiser e quando quiser sem incomodar ninguém. Só um pequeno detalhe: o som é jogado diretamente no seu ouvido. E é esse o problema
Imagine que você vai sair de casa, às seis horas da manhã, para ter uma bela de uma aula em plena segunda-feira. Você liga seu MP4, (ou MP3, MP7, MP9³², não importa) põe seu fone de ouvido, ajusta o som de modo que fique confortável nem alto demais, nem baixo demais, e sai de casa. No caminho, outros ruídos iram te incomodar, é a poluição sonora, muito comum em grandes cidades. Quando você percebe que não consegue ouvir nem seus próprios pensamentos, tende a aumentar o som. “A pessoa não se contenta em ouvir o som, ela tem que ouvi-lo alto”, diz Marizelda. Como esse som é jogado diretamente para dentro do seu canal auditivo, e em relação a todo o barulho ao seu redor, você nem percebe o quanto alto ele pode estar. E isso danifica demais a audição, por que pode existir um costume, como o de ir e voltar da aula de segunda a sexta ouvindo música. E é o uso repetitivo que causa dano.
Além do exemplo da boate e do fone, outro fator que vem prejudicando ouvidos próprios e alheios (até por que o fone só você que ouve então o problema é só seu) é a tendência de se instalar aparelhos de som possantes em carros. A principal serventia é para o exibicionismo (é como se fosse o rabo do pavão). Em um estacionamento na Rua Primeiro de Maio, no Centro da pequena cidade de Igarapé, é comum que aos domingos aconteça uma reunião de donos de carros com aparelhos de sons potentes. O que começou pequeno está crescendo e pessoas de cidades próximas como São Joaquim de Bicas e Betim, já aparecem por lá. Pra quem não sabe, nesses eventos os donos dos aparelhos disputam entre si para ver qual é o mais potente. É impossível se quer prestar atenção em uma música isolada.
Para que nenhum amante de competições sonoras perca a audição, é só não comparecer lá todo fim de semana. Mas não seria má ideia promover uma rotação do evento. Imagine o incomodo dos vizinhos que todo domingo, gostando ou não, tem que ficar no meio da disputa.
Fechando com lição de moral
Sem querer fazer drama. Mas uma vez perdida, a audição nunca é recuperada plenamente. O uso de aparelhos auditivos pode ajudar e dependendo do caso uma cirurgia pode valer também. Só que ela nunca será a mesma. Não queira dar valor a ela só depois que a perder.